sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Troia - Porto Covo - Troia

Bom este vai ser o meu primeiro relato de viagem. Espero não se tornar maçador com tantos pormenores :)

Não foi propriamente uma viagem, mas acho que ficou mais próximo de viagem do que de passeio.


Preparação

A ideia para esta volta começou há algumas semanas, quando comecei a pensar em fazer o Tróia Sagres este ano. O trajecto é mais ou menos o mesmo, mas fazia só metade e voltava para trás. A quilometragem é basicamente a mesma, são menos subidas, porque essas aparecem lá mais para frente, mas em compensação devo ter que levar com a nortada à volta, e ainda por cima ia tenho a desvantagem psicológica (que quando começas a sofrer no fim destes desafios é muito importante) de ter de passar 2x no mesmo sítio.
De qualquer modo, fazer isto de BTT com pneu 2.0 era algo que não me atraía muito. Com a entrada em jogo da fininha e, depois de no fim-de-semana passado ter feito 115km, pensei que tinha chegado a hora.

A primeira coisa a fazer era decidir o local de destino. Havia as seguintes hipóteses para ponto de destino
- Santo André - 110kms ida e volta
- São Torpes – 145kms ida e volta
- Porto Covo – 170kms ida e volta
- Vila Nova de Mil Fontes – 200km ida  e volta

Os 200km ficaram à partida postos de parte, uma vez que o meu record de kilometragem até à data era 134km.
Pus como objectivo Porto Covo, mas com a contingência de, caso não me sentisse com força ou sentisse já alguma acumulação de ácido nas pernas, voltar para trás em São Torpes ou Santo André. Em São Torpes só mesmo em último caso pararia, uma vez que fica apenas a 10kms de Porto Covo e é uma estrada espectacular. Santo André era uma hipótese porque me pouparia a quase 15km (30km no total ida e volta) de via rápida que, até de carro é muito chata de fazer.

Rapidamente fiz o plano de viagem: Uma folha manuscrita com todas as terras por onde ia passar e o km de viagem em que as ia atravessar à ida e à volta, serviria de referencia e iria-me ajudar muito no percurso, principalmente à volta quando muitas vezes a clarividência falta. Com base na hora de chegada do barco a Tróia, e numa média de 25km/h à dia e 20km/h à vinda, tomei também nota da hora a que deveria passar por cada localidade à ida e à vinda.


A Viagem

Saí de casa ainda de noite e já atrasado porque ia apanha o barco das 7:50. Caso perdesse este barco o próximo era só às 9h, o que me faria adiar esta volta para outro dia. Chego a Setúbal 5 minutos antes da hora. Estou a calçar os sapatos da bike quando reparo que trouxe uma luva de cada modelo. Entro em pânico… Não vou conseguir pedalar 8 horas sem uma luva por causa dos pulsos… tenho 50% de probabilidade ter uma luva de cada mão. Sorte, muita sorte…. Lá vou eu, entrar no barco para Tróia com uma luva amarela e uma preta. :)



Para minha surpresa, o barco demora menos de meia hora a atravessar o Sado e ir para o cais sul de Tróia. Boa! Começo com 20 minutos de avanço em relação ao planeado. 



Os primeiros 16kms até à Comporta, foram marcados por muito frio (nem os manguitos e os corsários o tornava mais ameno), e o completo isolamento. Não vi um único carro nem uma única pessoa. Parecia que o mundo tinha parado eu estava ali, no meio do nada, a pedalar no meio da faixa sem um único som.
O primeiro carro que apanhei já estava a passar perto da prisão de Pinheiro da Cruz. Alguns kms antes há um género de pedreiras mas de exploração de areia, e passaram por mim vários camiões.

Calmamente fui aumentado o ritmo até chegar aos 30..32km/h, ritmo que mantive durante as duas primeiras horas.

Sempre a tentar decorar os cafés pelo caminho, caso precisasse de parar à volta, passei pela Comporta, Carvalhal, Pinheiro da Cruz, Caveria… Melides para as primeiras e únicas subidas do dia. Não era nada de especial, mas ficou a nota para quando estiver a voltar, cansado e com o vento de frente. Uns kms depois estava em Vila Nova de Santo André, terra que conheço relativamente bem. Fiz aí a primeira paragem do dia já com 56 kms. Foram quase duas horas a pedalar sem parar. Sentia-me muito bem, pelo que não via nenhuma razão para ficar por ali.
Faço a via rápida de Santo André que estava em obras. As obras obrigavam os carros a andar numa faixa para cada lado, e deixavam uma faixa para cada lado intactas e com o piso em relativo bom estado. Resultado: Fiz a tal via rápida com uma faixa só para mim. :)



Isto estava a correr realmente bem. Chego a São Torpes, tiro a foto da praxe à bike junto ao mar. 
Nas dezenas de vezes que passei ali, ou a surfar ou a caminho de Sagres nos últimos 20 anos, nunca pensei que alguma vez ia ali passar de bike vindo de tão longe, ou pior, se algum dia ia quase deixar de surfar para andar de bike. Enfim…  Aqueles 10kms entre São Torpes e Porto Covo, que pensava iam ser de relaxe a ver o mar, foram os piores. O piso em muito mau estado fazia-me doer imenso os ossos das mãos, e à volta foi o troço em que apanhei mais vento de frente.

Chego a Porto Covo pouco antes das 12h. Consegui fazer uma média de 29km/h e cheguei 45 minutos antes do que tinha planeado. 
Só quando chego a Porto Covo é que me dou conta que a ultima vez que ali tinha estado, tinha sido em pleno Alvalade – Porto Covo, 120km feitos com princípio de anemia em sofrimento extremo. Teve um significado especial no dia em que ia fazer esta prova de resistência passar no sítio onde mais sofri em cima da bike até hoje.



Embora já tivessem 85km, as pernas estavam bem, por isso, comi uma sandes da mochila e resolvi começar a pedalar com apenas 15 minutos de descanso. A volta a São Torpes foi uma tortura... muito vento de frente... aquele piso terrível... e não conseguir passar dos 20km/h durante aqueles 10kms.

Foi com alguma facilidade que fiz grande parte do caminho de regresso. O meu cardio-frequencimetro (o meu melhor amigo nestas provas) dizia-me que não. Que tinha feito os 85km a 65..75% da minha frequência máxima, mas ia agora à volta a 80..85%, em pleno liminar aeróbico.
Isto significava muito provavelmente uma coisa: Acido a acumular nas pernas. De qualquer modo é complicado ir contra o vento com menos esforço que esse, a não ser que se vá demasiado devagar. Tive que assumir o risco e continuar. 

Com uma pequena paragem à chegada a Melides, continuei até ao Carvalhal (a 25kms já de Tróia). Aqui o meu ritmo cardíaco já ia mais perto dos 85..89% do que dos 80..85%, pelo que resolvi parar 10 minutos para acalmar a coisa.  Para minha surpresa as minhas pernas não davam sinais do acumular do acido lácteo, e porque já estava a 25km do destino, decidi deixar a minha frequência cardíaca subir, e foquei-me pela primeira vez mais no conta kms.  A apenas 8kms do final tive mesmo de abrandar. Tinha estado 20 minutos seguidos em cima dos 90%, o que numa prova destas é uma violência para o meu coração, e dava-me uma sensação muito forte de cansaço mesmo sem me doer as pernas. Respirado fundo e abandonando de vez a pedaleira 50, a coisa acalmou e cheguei a Tróia com 172kms quase sem sofrimento. Cheguei 2 horas antes do que tinha planeado, pelo que apanhei o barco das 16:30.  




Já no barco, ia-me no pensamento:  Mais 28kms tinha ido até Mil Fontes e tinha feito os 200km….


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um fininho com uma fininha

Dos "Males que vêm por bem", foram feitos vários treinos muitos bons. Os 134km na Arrábida, os 120km de alcatrão na ida a Sintra e os 135km + 30km da ida à Fátima com os Metralhas.

Que saudades tinha de fazer uma travessia. Foi relativamente curta, mas cheia de convívio. A certa altura parecia uma Maratona, tal era a organização e número de participantes. Um muito obrigado e um parabéns aos Metralhas pela pessoa do João Paulo. Foi muito giro descer ao mesmo tempo que tanta gente com muito muito mais técnica que eu. A travessia em si acabou por ser feita sem grandes problemas, e ficou o desafio de a repetir apenas em 1 dia. 

Na semana seguinte voltei ao meu plano de treinos normal: 1 Treino muito duro de subidas em força e um treino de 2,5 horas no liminar aeróbico. No fim de semana, e aproveitando a embalagem fiz 95km no sábado entra casa, Arrábida, Palmela e Azeitão, e no domingo fiz 102km entre casa, Azeitão, Pedreiras, Sesimbra, Cabo Espichel e Lagoa de Albufeira. Estes últimos 102km apenas numa manhã e conseguir chegar a casa à hora de almoço (a minha cara metade agradece). Foram basicamente 450kms numa semana.

Depois disto... 36 primaveras. Mais um aninho de vida. Segundo o senhor Karvone (e o meu medidor de frequência cardiaca), o meu coração faz menos um batimento cardíaco por minuto desde à 2 dias! eheh. Vou ter de pedalar mais rápido para provar aí ao senhor com nome de marca de  vodka que está enganado.
Melhor que estas geekiçes todas foi a prenda da minha cara metade. Não é que me deu uma bike de estrada!!!
Era mesmo mesmo mesmo o que eu queria. Senti-me realmente um miúdo de 8 anos com uma prenda nova. Adeus treinos de força e de estrada durante a semana feitos com roda 26, e suspensões de centenas de euros bloqueadas, e cassetes e pedaleiros caríssimos em desgaste no alcatrão.
A bike foi muito barata e é de muito baixa gama, mas chega para o que quero para já. Por acaso vem com 3 pratos, mas já assumi o compromisso de não usar o mais pequeno. Vai ter de sair tudo das pernas para começar a ver os progressos no BTT rapidamente.
O primeiro teste ja foi feito e correu muito muito bem. Parece que fiz estrada a vida toda.

As voltas que a vida dá....
No meio de onde vim, não sei bem porque, os desportos da moda sempre foram o surf, o skate, o snowboard, etc. Sempre vi o ciclismo como um desporto mais ... bimbo. Já tinha sentido um pouco isto quando começei a fazer BTT e começei a usar "roupinha de licra".  Aqui foi facil de passar por cima disso. Literalmente passar por cima... um mortal encarpado por cima da roda da frente, devido aos calções largos mais "fashion" terem prendido no guiador. La se foi o estigma da "roupinha de licra".

Agora, depois de mais de 20 anos a fazer bodyboard, surf, snowboard, etc... aqui estou eu a fazer ciclismo. Parece que estou a ver a minha cara de frete a gramar com  a Volta a Portugal que o meu pai obrigava a por na televisão la de casa há uns anos. Ver aquele pessoal todo com sotaque do norte e do algarve, com pernas depiladas e com bronse à camionista. 

Se há coisa que a vida e os anos nos fazem aprender é que nunca sabemos o que é que vamos sentir no dia seguinte, por isso é melhor não fazer juízos antecipados das coisas antes de passarmos por elas.

Aqui estou eu... bike de estrada, roupa justa de licra, capacete e bronze à camionista ... não, as pernas não as depilo, mas usando a máxima que escrevi acima, também já não faço juízos de quem o faz. :D 



Um fininho com uma fininha!