segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dias escuros

Já passou tanto tempo...
Estava tudo a correr bem. Ia subindo aos poucos e poucos, patamar a patamar quando à chegada de uma das minha voltas solitárias de fininha em que fiz 190kms sozinho, um dos meus pesadelos voltou.
Eu já sabia que devia ser uma questão de tempo, penso até que essa espectativa por algum motivo ainda estimulava mais esta luta de empurrar o limite físico. Isto aconteceu em Dezembro de 2011. Ainda tentei ate Março manter o ritmo mas era inevitável e não deu. Como não consigo fazer nada aos poucos, e, ou faço uma coisa a serio ao não faço... deixei aos poucos de pedalar. Neste momento faz 7 meses que não pedalo.
Todos os  dias quando vou à garagem e vejo das bikes cheias de pó, ou quando abro a gaveta onde tenho a roupa de ciclismo, sou confrontado com esta frustração. Mas todos os dias também este meu pesadelo me acompanha, ou com dor ou com desconforto está sempre presente.
Finalmente ganhei coragem e enfrentei o boi pelos cornos.
Já sabia que este problema (que não é nada muitooooo grave) não tem propriamente cura. Tem tratamentos que adiam o problema, e tem outros que curam mais a longo prazo. Tentei  no passado resolve-lo com a primeira hipótese.  Uma das vezes adiou 6 meses e a outra adiou 1 ano  e pouco... mas por incrível que pareça foi com um sofrimento enorme.
Desta vez teve ser mesmo  com cirurgia. Pequena e rápida, anestesia local, e prontos... só falta um pormenor.. não há pontos. Segundo o médico pós-operatório de "dor severa".
Bom já fui operado 2x e nunca tinha passado por isto.  Devo ser já conhecido aqui na minha rua. Parece a matança do porco uma ou duas vezes por dia.
Enfim... passou uma semana e devo estar no final da primeira fase da coisa... já sinto as dores a diminuir tirando claro os momentos da matança do porco.   Enfim.. não me quero alongar muito mais...
Não sei o que vem depois. Não sei  se vou voltar ao que fazia antes.  Provavelmente não. Pelo menos não do mesmo modo.
Claro que vou pedalar. 1x, 2x por semana sim talvez. 4x por semana e com voltas de 200kms seguidas... acho que já não.  Porque se isto voltar de novo, por muito incrível que pareça o tratamento ainda vai ser pior.
Daqui a umas seis semanas já devem voltar finalmente as dores... de pernas :).
 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Rescaldo 2011

Antes de mais queria fazer um disclaimer. 
Este post, assim como o blog em si, é um registo pessoal dos desafios que vou pondo a mim próprio. Não é, nem pretende ser nenhuma massagem ao ego ou qualquer tipo de feira de vaidades. Para muitos (quem sabe a maior parte),  pode parecer banal. Não é nada de especial fazer uma maratona de 85km e terminar no ultimo 1/3 da tabela. 
É verdade. A questão não tem a ver com feitos competitivos. Tem a ver com o que designei pelo Meu Caminho. Aos quase 35 anos, e passado uma vida de desportos radicais, copos, muitos anos de tabaco na adolescência, quase 20 anos depois de ter-me posto em cima de uma bicicleta pela ultima vez, resolvi pedalar. Primeiro umas voltinhas, depois umas maiores, e outras .... e outras (tenho muitos posts a explicarem estas descobertas)... apaixonei-me pelo BTT, pelas longas distancias, pelas provas de resistência, e não consigo esconder a frustração de chegar de uma volta ou treino sem dores nas pernas. Por-me à prova física e psicologicamente em provas de esforço e ainda descobrir sítios brutais onde nunca tinha tinha pensado ir, é o que me faz pedalar quase todos os dias e somar kms de dores de pernas.


Esta foi a primeira imagem deste blog e continua a ser uma das minhas favoritas.  


Agora o post em si:

O Ano começou com uma pequena cirurgia que me deixou um mês sem actividade física. Após este mês de paragem começaram calmamente os treinos que me levaram a fazer o Caminho de Santiago. Comecei a fazer alguns treinos maiores de 70, 80km até ao Cabo Espichel, umas voltas duras na Arrábida, mas o primeiro treino realmente grande que fiz foi a etapa de promoção da Transportugal. Num ritmo bastante lento, fiz 114 km entre Monfortinho e Salavessa uma localidade a sul de Vilha Velha de Rodão. 

Entretanto já na recta final da preparação para Santiago de Compostela cumpri o primeiro objectivo do ano. Fazer uma maratona completa. Foi em Vendas Novas com 85kms de sobe e desce Alentejano. Ainda na semana antes de Santiago fiz o treino mais duro até à data, com 70km e quase 2000 metros de acumulado na Arrábida.
Na semana seguinte a chegar de Santiago foi a vez da Meia Maratona de Portalegre com 60km e uns imponentes 1800 metros de acumulado. 

Por esta altura, desvinculei-me oficialmente dos Saltapocinhas BTT:. São e vão continuar meus amigos. Continuo a dar esporadicamente algumas voltas com eles, mas temos inevitavelmente visões e caminhos diferentes.

Na semana seguinte descobri que estava com um principio de anemia, mas mesmo assim quis fazer os 120kms do Alvalade - Porto Covo - Alvalade. Resultado: o maior sofrimento de sempre com 40 graus e  com vários momentos quase de desmaio. Acabei por ter muita sorte, mas sofri muito. Cheguei aos 60km de prova sem força e cheio de dor nas pernas que mal conseguia andar. Mas ainda fiz mais 60km. Uma experiência a não repetir. Esta situação durou até ao verão, pelo que só cheguei a fazer uma maratona completa mais acessível, que foi em Cuba.

Em Agosto os treinos endureceram muito, e comecei a olhar mais para o lado físico do que para o lado técnico. Nos treinos de fim de semana incluo alguns "passeios" mas a grande maioria, assim como nos treinos durante a semana, têm um propósito concreto e a sua dificuldade e ritmo são pré-definidos.
Aqui a maioria dos treinos eram ou de séries nas subidas entre a Trafaria e o Monte da Caparica, ou treinos de 70,80 e 90kms sem paragens até ao Espichel e Arrábida. Para este plano de treinos ser possível comecei também a treinar mais sozinho.

Depois, já em Outubro, fiz os Caminhos de Fátima com os amigos Metralhas, e adquiri a Fininha. Com a Fininha tudo passou a ser diferente, e passei a fazer BTT só no mato. Comecei a fazer treinos de maior duração todos acima de 100 kms. Logo a terceira volta que dei com a bike de estrada fiz 172 kms entre Troia, Porto Covo e regresso a Troia. 
Um dos pontos altos do ano, só ultrapassado pela chegada a Santiago de Compostela,  foi no final de Novembro quando fiz o Troia Sagres sozinho em autonomia em menos de 8 horas. 

Muitos desafios estão pensados para o próximo ano, mas não conseguia sequer pensar em fazer algum deles sem este 2011 cheio de desafios, esforço, dores nas pernas e diversão.


Ficam alguns dados estatísticos

8.211km pedalados
   5.987km de BTT
   2.225km de Fininha nos últimos 3 meses
427 horas a pedalar

Maratonas:
- Rota do Azeite Idanha 
- 1/2 Maratona de Portalegre
- Trilhos e Courelas - Venda Novas 85km
- Alvalade - Porto Covo - Alvalade - 120km
- Maratona de Cuba - 75km


20  Treinos com mais de 100km
26  Treinos entre 60 e 100km
120 Treinos com menos de 60kms

Maiores treinos:
202km Troia Sagres a Solo
190km Charneca - Montijo - Setubal - Espichel - Charneca
189km Charneca - Alcaçer do Sal - Charneca







segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O meu Troia Sagres a Solo

Motivação

Quando em Janeiro, com apenas 4 meses de BTT, defini os meus objetivos para 2011 (ou aquilo que eu pensava serem os meus objetivos) tinha definido 3 : Fazer uma maratona completa (acabei por fazer 3), fazer os Caminhos de Santiago e a meia maratona de Portalegre. O Troia/Sagres nem foi equacionado porque me parecia algo inatingível. 200km eram 200kms e para quem só fazia 40,50 ou 60 de BTT, os 200 estavam realmente longe do meu horizonte.Também confesso que não me seduzia andar tanto tempo em alcatrão.

Quando há um mês comprei a fininha, o Troia Sagres passou logo a ser um dos meu primeiros objetivos. Em primeiro lugar já fazia relativamente bem 100..130km de estrada em BTT com pneu largo, e em segundo o caminho em si. Desde há muitos anos que vou sempre passar férias a Aljezur, Carrapateira, Sines, Sagres, etc. São locais e estradas que conheço muito muito bem e que me trazem muitas e muito boas recordações.
Porquê sozinho? Bem... a resposta a esta pergunta dava para escrever páginas e páginas, mas vou responder de uma forma abstrata. Em tempos li algures que uns dos maiores sinais de intimidade entre duas pessoas, é a capacidade de partilharem o silencio. Acho que isto é verdade também para a própria pessoa. Uma pessoa só se sente bem completamente sozinha se realmente for feliz e se sentir feliz, caso contrario a solidão é insuportável. Fazer um desafio destes, a solo, e ter no final à minha espera hoje (como há 6 meses na Praça do Obradoiro) as minhas duas mais que tudo, é das melhores coisas que já senti. Vou ter muitos momentos de companheirismo e amizade, mas hoje é para mim.


Preparação

Quando planeei esta aventura, com base no que conheço do caminho, na analise do track e nos relatos de pessoal que já fez o Troia/Sagres (e como Gestor de Projecto que sou), identifiquei imediatamente os factores críticos de sucesso e os riscos.

Os fatores críticos de sucesso, no meu entender eram basicamente 4: Tempo. Nesta altura do ano é noite às 17:30, e o primeiro barco chega a Troia às 7:15. Sobram 10 horas. Mesmo só com uma hora de paragem, para chegar de dia, a média da viagem tem que sempre ser igual ou superior 23..24km/h. Isto cria outro ponto Ritmo. É uma viagem que não pode ser feita em ritmo de passeio. O Clima. Com vento sul esta aventura toma outra dimensão. Velocidade mais baixa, esforço muito maior, chegar de noite... não, este fator eliminei. Só iria a Sagres sozinho num dia em que não houvesse vento sul. Gestão - Gerir as pernas, as zonas de frequência cardíaca, as dores no pescoço, as dores nas costas, os pontos de paragem, gerir a motivação, sofrimento, etc..
A viagem pode ser dividia em 3 partes.
O primeira até São Torpes - 75kms fáceis, com bom piso e pouco transito. Tentar chegar aqui sem parar, com um ritmo alto mas sem deixar as pulsações passar dos 80%, para garantir o mínimo desgaste. O segundo entre São Torpes e o Rogil. Aqui basicamente são dois troços. De VN Milfontes até São Teotónio, é um falso plano de quase 20kms com uma subida no fim, que até de carro é muito monótono e a descida e respetiva subida para Odeceixes. A subida mais complicada de todo o percurso. A terceira parte é basicamente entre Aljezur e Vila do Bispo/Sagres. (aqui havia pelo menos duas subidas complicadas).
No melhor cenário, o objetivo era chegar ao Rogil sem grande sofrimento e sem entrar em regime anaerobico. Depois os últimos 50kms, mesmo que sofresse ja estava a chegar, e tinha confiança que mesmo em sofrimento aguentava 2 ou 3 horas.
Para garantir que conseguia gerir os tempos da viagem, fiz em Excel uma lista com os pontos de passagem (aproximadamente 15), respetivo km de passagem, media previstas em cada troço, tempo de paragem previsto, etc. Com este Excel, consegui planear em que sítios iria parar e quanto tempo, assim como um horário previsto de passagem em cada ponto de modo a chegar a Sagres às 17h. Ficava ainda com 30 minutos de margem de erro. Fiz uma pequena cabula plastificada com esta grelha para colocar no bolso do jersey.


A Viagem

Acordei às 4:50 da manhã. Usei o truque que li no blog do mestre Vitor Gamito, e o meu pequeno almoço foi uma tigela de Aletria e 2 bcaa's antes de sair de casa. Aletria = Massa, ovo, açúcar...é quase um almoço em forma que pequeno almoço.
Apanhei o primeiro barco das 6:45 que me fez chegar a Troia às 7:11. Hora oficial do arranque.

Começo a pedalar praticamente de noite em com muito frio. De modo a poder comer barras pelo caminho, falar ao telemóvel e ver a minha cabula em andamento levei luvas sem dedos. Muito me arrependi no inicio da viagem tal era o frio, mas depois la acabaram por aquecer. Este inicio da viagem é mágico. Não se vê um carro. Mar de um lado, rio do outro, silencio absoluto.Pedalando com calma mas com algum ritmo chego a Vila Nova de Santo André com aproximadamente 50km ainda descontraído e apenas com uma barra energética no "buxo". É muito importante comer sem ter fome e beber sem ter sede, caso contrario seria lá mais para a frente que ia pagar a factura.

Chego a São Torpes muito cedo. Consegui fazer como o guia do António Malvar. Paro só ao km 75 para comer uma sandes da mochila ... e uma banana tambem :).

Quando passo são Torpes e vou a virar mais à frente para Porto Covo tenho o primeiro contratempo. Um sinal dizia que o transito no sentido de Porto Covo estava cortado mais à frente. Dizia também que o caminho para VN Milfontes devia ser em frente. Bem, eu conheço bem este caminho... em frente tenho que atravessar a Serra do Cercal. Mais kms e muitas mais subidas vão dar cabo do meu planeamento de viagem. Tomo uma decisão. Vou arriscar e vou virar para o caminho por onde dizem que o transito está cortado. Isto é uma bicicleta... vou conseguir passar. Mais à frente, quando chego ao cruzamento para a ilha do pessegueiro dou com um sinal de transito proibido e uma seta de desvio para a ilha do pessegueiro. Bom, eu sei que a estrada da Ilha do Pessegueiro não tem saída. Sei também que a única maneira alternativa de sair da Ilha do Pessegueiro é uma estrada de todo o terreno cheia de areia que vai dar à praia dos Aivados e à Ribeira da Azenha que é a localidade por onde passa o caminho normal e que devia estar cortado. E prontos, o desvio é por um caminho de BTT. Bem... não quero voltar para trás, pode ser que a fininha passe por esse caminho. E assim fiz de bicicleta de estrada 5km numa estrada de terra batida, cheia de buracos e agua, com uma descida cheia de lama onde só não caí "á seria" porque não sei porquê recuperei de um slide brutal com a fininha que mesmo de BTT não tinha sido fácil recuperar.

Quando cheguei à estrada principal ainda estava na Ribeira da Azenha. Andei mais um pouco passando pelo desvio para o Malhão e parei nas Brunheiras. Aqui bebi um muito rápido café, respirei fundo, pus o incidente para trás e foquei-me de novo na viagem e no que tinha pela frente.
Por esta altura já ia com cerca de 20, 30 minutos de avanço em relação ao planeado, mas como as dificuldades estavam todas adiante, o mais certo era precisar desse tempo ainda.



Passo por VN Milfontes e começo a subir para São Teotónio. Bom... grande seca. O tal falso plano, sem o Cardio-Frequencimetro tinha-me estragado a viagem. 15 ou 20kms onde tinha feito sem grande esforço uma média de 30km/h, mas que o iria fazer a 85..90% da minha pulsação máxima... ia de certeza pagar por esta parvoíce mais à frente, pelo que nem por 10 minutos me deixei enganar. Respiro fundo, esqueço a média e pedalo com calma pondo a cabeça noutro sitio e tentando gozar a tranquilidade que estava à minha volta. Tinha pensado para mim que só vou deixar a minha pulsação chegar pela primeira vez chegar aos 90% (mesmo que pontualmente) na subida de odeceixes ao km 140.



Passo por São Teotónio, que era o ponto de maior altitude da viagem, com alguma facilidade. O primeiro obstáculo estava ultrapassado. Agora descia a 50km/h a caminho à entrada no algarve. E que entrada... Odeceixes.

Como apenas tinha feito esta estrada de carro, não tinha memória das dificuldades reais da mesma a pedalar. Numa tinha reparado no falso plano de São Teotónio, na subida da Carrapeira, etc. A única coisa que me lembro é da subida de Odeceixes. Varias curvas e contracurvas muito apertadas e de desnivel muito acentuado, onde ja ia levando com varios carros em contra mão, tal é o perigo deste troço.


Voltando à viagem... paro no inicio da subida para a foto da praxe e como apressadamente uma banana, uma vez que faltavam apenas 10kms para a segunda paragem do dia no Rogil. Esta subida era... apenas um mito. A subida não deve ter mais de 1 ou 2 km, o que dá uns breves minutos a pedalar em pé, que por mais que custem, não me iriam causar nenhum mal. Seria complicado sim se tivesse chegado aqui em sofrimento, mas neste caso serviu apenas para confirmar que me sentia muito bem.

Quando parei no Rogil ao km 150 para comer alguma coisa quente e encher os cantis de água, sentia-me muito bem e tive noção pela primeira vez que ia conseguir chegar a Sagres. Ainda devia aguentar mais uns kms bons antes de começar a sofrer, pelo que a sofrer deviam já ser só 20 ou 30kms.

Desço para Aljezur com a confiança redobrada e já com 45 minutos de vantagem em relação ao planeado. Passando Aljezur, subo para o desvio para Sagres a sentir pela primeira vez o sol e o calor. A subida até foi feita facilmente, mas depois, à passagem por umas das localidades históricas da minha vida, Vale Figueiras (onde a minha pequena mais que tudo foi fabricada), numa zona de constante sobe e desce, senti pela primeira vez as pernas a sofrer.

Quando depois de pedalar em pé e me ia a sentar (numa altura em que dou sempre um coice para empurrar a bike para a frente) senti um leve prender de câimbria na perna esquerda. Felizmente nunca tive câimbrias a pedalar, quando tenho é sempre em repouso duas ou três horas depois dos esforço. Com o susto abrandei e deixei de pedalar em pé.
Foi então já com algum sofrimento que cheguei à Carrapateira ao km 175. Sento-me num banco de jardim, como um barra energética, uma banana, um gel (shot de acuçar e cafeina) e faço alguns alongamentos.





Como sempre, o shot de cafeína da-me autenticamente asas, e foi sem dores nas pernas, que subi sem qualquer tipo de dificuldade aquilo que pensei que ia ser o pior obstáculo. Os quase 10kms de subida da Carrapateira ao parque eolico de Vila-do-Bispo.



Entrei em Vila do Bispo a mais de 50km/h a descer a aos berros. Tinha chegado! Agora eram apenas 10kms em frente até Sagres. Como por magia, quando entro na nacional 125 a caminho de Sagres, estava um vento brutal nas costas.... e fiz, como que empurrado por uma mão superior, aqueles 10km a mais 40km/h, onde mesmo quando parava de pedalar não descia dos 38, 35km/h.





Cheguei uma hora antes do previsto, ainda de dia, a sentir-me muito bem, e com uma sensação de plenitude que me encheu o corpo e a cabeça. Como uma droga, esta sensação mal me deixou gozar o momento e pôs-me logo a pensar nos próximos objetivos. Além de repetir a volta com os amigos Metralhas passado 3 semanas, algumas coisas mais desafiantes para 2012.

Acabei o dia como tantos outros já acabei naquela zona, com alta Mariscada lowcost na Azenha do Mar.


PS: Desculpem a pouca quantidade de fotografias e a sua baixa qualidade mas tirando a de Odeceixes e a final em Sagres foram todas tiradas em andamento.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Troia - Porto Covo - Troia

Bom este vai ser o meu primeiro relato de viagem. Espero não se tornar maçador com tantos pormenores :)

Não foi propriamente uma viagem, mas acho que ficou mais próximo de viagem do que de passeio.


Preparação

A ideia para esta volta começou há algumas semanas, quando comecei a pensar em fazer o Tróia Sagres este ano. O trajecto é mais ou menos o mesmo, mas fazia só metade e voltava para trás. A quilometragem é basicamente a mesma, são menos subidas, porque essas aparecem lá mais para frente, mas em compensação devo ter que levar com a nortada à volta, e ainda por cima ia tenho a desvantagem psicológica (que quando começas a sofrer no fim destes desafios é muito importante) de ter de passar 2x no mesmo sítio.
De qualquer modo, fazer isto de BTT com pneu 2.0 era algo que não me atraía muito. Com a entrada em jogo da fininha e, depois de no fim-de-semana passado ter feito 115km, pensei que tinha chegado a hora.

A primeira coisa a fazer era decidir o local de destino. Havia as seguintes hipóteses para ponto de destino
- Santo André - 110kms ida e volta
- São Torpes – 145kms ida e volta
- Porto Covo – 170kms ida e volta
- Vila Nova de Mil Fontes – 200km ida  e volta

Os 200km ficaram à partida postos de parte, uma vez que o meu record de kilometragem até à data era 134km.
Pus como objectivo Porto Covo, mas com a contingência de, caso não me sentisse com força ou sentisse já alguma acumulação de ácido nas pernas, voltar para trás em São Torpes ou Santo André. Em São Torpes só mesmo em último caso pararia, uma vez que fica apenas a 10kms de Porto Covo e é uma estrada espectacular. Santo André era uma hipótese porque me pouparia a quase 15km (30km no total ida e volta) de via rápida que, até de carro é muito chata de fazer.

Rapidamente fiz o plano de viagem: Uma folha manuscrita com todas as terras por onde ia passar e o km de viagem em que as ia atravessar à ida e à volta, serviria de referencia e iria-me ajudar muito no percurso, principalmente à volta quando muitas vezes a clarividência falta. Com base na hora de chegada do barco a Tróia, e numa média de 25km/h à dia e 20km/h à vinda, tomei também nota da hora a que deveria passar por cada localidade à ida e à vinda.


A Viagem

Saí de casa ainda de noite e já atrasado porque ia apanha o barco das 7:50. Caso perdesse este barco o próximo era só às 9h, o que me faria adiar esta volta para outro dia. Chego a Setúbal 5 minutos antes da hora. Estou a calçar os sapatos da bike quando reparo que trouxe uma luva de cada modelo. Entro em pânico… Não vou conseguir pedalar 8 horas sem uma luva por causa dos pulsos… tenho 50% de probabilidade ter uma luva de cada mão. Sorte, muita sorte…. Lá vou eu, entrar no barco para Tróia com uma luva amarela e uma preta. :)



Para minha surpresa, o barco demora menos de meia hora a atravessar o Sado e ir para o cais sul de Tróia. Boa! Começo com 20 minutos de avanço em relação ao planeado. 



Os primeiros 16kms até à Comporta, foram marcados por muito frio (nem os manguitos e os corsários o tornava mais ameno), e o completo isolamento. Não vi um único carro nem uma única pessoa. Parecia que o mundo tinha parado eu estava ali, no meio do nada, a pedalar no meio da faixa sem um único som.
O primeiro carro que apanhei já estava a passar perto da prisão de Pinheiro da Cruz. Alguns kms antes há um género de pedreiras mas de exploração de areia, e passaram por mim vários camiões.

Calmamente fui aumentado o ritmo até chegar aos 30..32km/h, ritmo que mantive durante as duas primeiras horas.

Sempre a tentar decorar os cafés pelo caminho, caso precisasse de parar à volta, passei pela Comporta, Carvalhal, Pinheiro da Cruz, Caveria… Melides para as primeiras e únicas subidas do dia. Não era nada de especial, mas ficou a nota para quando estiver a voltar, cansado e com o vento de frente. Uns kms depois estava em Vila Nova de Santo André, terra que conheço relativamente bem. Fiz aí a primeira paragem do dia já com 56 kms. Foram quase duas horas a pedalar sem parar. Sentia-me muito bem, pelo que não via nenhuma razão para ficar por ali.
Faço a via rápida de Santo André que estava em obras. As obras obrigavam os carros a andar numa faixa para cada lado, e deixavam uma faixa para cada lado intactas e com o piso em relativo bom estado. Resultado: Fiz a tal via rápida com uma faixa só para mim. :)



Isto estava a correr realmente bem. Chego a São Torpes, tiro a foto da praxe à bike junto ao mar. 
Nas dezenas de vezes que passei ali, ou a surfar ou a caminho de Sagres nos últimos 20 anos, nunca pensei que alguma vez ia ali passar de bike vindo de tão longe, ou pior, se algum dia ia quase deixar de surfar para andar de bike. Enfim…  Aqueles 10kms entre São Torpes e Porto Covo, que pensava iam ser de relaxe a ver o mar, foram os piores. O piso em muito mau estado fazia-me doer imenso os ossos das mãos, e à volta foi o troço em que apanhei mais vento de frente.

Chego a Porto Covo pouco antes das 12h. Consegui fazer uma média de 29km/h e cheguei 45 minutos antes do que tinha planeado. 
Só quando chego a Porto Covo é que me dou conta que a ultima vez que ali tinha estado, tinha sido em pleno Alvalade – Porto Covo, 120km feitos com princípio de anemia em sofrimento extremo. Teve um significado especial no dia em que ia fazer esta prova de resistência passar no sítio onde mais sofri em cima da bike até hoje.



Embora já tivessem 85km, as pernas estavam bem, por isso, comi uma sandes da mochila e resolvi começar a pedalar com apenas 15 minutos de descanso. A volta a São Torpes foi uma tortura... muito vento de frente... aquele piso terrível... e não conseguir passar dos 20km/h durante aqueles 10kms.

Foi com alguma facilidade que fiz grande parte do caminho de regresso. O meu cardio-frequencimetro (o meu melhor amigo nestas provas) dizia-me que não. Que tinha feito os 85km a 65..75% da minha frequência máxima, mas ia agora à volta a 80..85%, em pleno liminar aeróbico.
Isto significava muito provavelmente uma coisa: Acido a acumular nas pernas. De qualquer modo é complicado ir contra o vento com menos esforço que esse, a não ser que se vá demasiado devagar. Tive que assumir o risco e continuar. 

Com uma pequena paragem à chegada a Melides, continuei até ao Carvalhal (a 25kms já de Tróia). Aqui o meu ritmo cardíaco já ia mais perto dos 85..89% do que dos 80..85%, pelo que resolvi parar 10 minutos para acalmar a coisa.  Para minha surpresa as minhas pernas não davam sinais do acumular do acido lácteo, e porque já estava a 25km do destino, decidi deixar a minha frequência cardíaca subir, e foquei-me pela primeira vez mais no conta kms.  A apenas 8kms do final tive mesmo de abrandar. Tinha estado 20 minutos seguidos em cima dos 90%, o que numa prova destas é uma violência para o meu coração, e dava-me uma sensação muito forte de cansaço mesmo sem me doer as pernas. Respirado fundo e abandonando de vez a pedaleira 50, a coisa acalmou e cheguei a Tróia com 172kms quase sem sofrimento. Cheguei 2 horas antes do que tinha planeado, pelo que apanhei o barco das 16:30.  




Já no barco, ia-me no pensamento:  Mais 28kms tinha ido até Mil Fontes e tinha feito os 200km….


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um fininho com uma fininha

Dos "Males que vêm por bem", foram feitos vários treinos muitos bons. Os 134km na Arrábida, os 120km de alcatrão na ida a Sintra e os 135km + 30km da ida à Fátima com os Metralhas.

Que saudades tinha de fazer uma travessia. Foi relativamente curta, mas cheia de convívio. A certa altura parecia uma Maratona, tal era a organização e número de participantes. Um muito obrigado e um parabéns aos Metralhas pela pessoa do João Paulo. Foi muito giro descer ao mesmo tempo que tanta gente com muito muito mais técnica que eu. A travessia em si acabou por ser feita sem grandes problemas, e ficou o desafio de a repetir apenas em 1 dia. 

Na semana seguinte voltei ao meu plano de treinos normal: 1 Treino muito duro de subidas em força e um treino de 2,5 horas no liminar aeróbico. No fim de semana, e aproveitando a embalagem fiz 95km no sábado entra casa, Arrábida, Palmela e Azeitão, e no domingo fiz 102km entre casa, Azeitão, Pedreiras, Sesimbra, Cabo Espichel e Lagoa de Albufeira. Estes últimos 102km apenas numa manhã e conseguir chegar a casa à hora de almoço (a minha cara metade agradece). Foram basicamente 450kms numa semana.

Depois disto... 36 primaveras. Mais um aninho de vida. Segundo o senhor Karvone (e o meu medidor de frequência cardiaca), o meu coração faz menos um batimento cardíaco por minuto desde à 2 dias! eheh. Vou ter de pedalar mais rápido para provar aí ao senhor com nome de marca de  vodka que está enganado.
Melhor que estas geekiçes todas foi a prenda da minha cara metade. Não é que me deu uma bike de estrada!!!
Era mesmo mesmo mesmo o que eu queria. Senti-me realmente um miúdo de 8 anos com uma prenda nova. Adeus treinos de força e de estrada durante a semana feitos com roda 26, e suspensões de centenas de euros bloqueadas, e cassetes e pedaleiros caríssimos em desgaste no alcatrão.
A bike foi muito barata e é de muito baixa gama, mas chega para o que quero para já. Por acaso vem com 3 pratos, mas já assumi o compromisso de não usar o mais pequeno. Vai ter de sair tudo das pernas para começar a ver os progressos no BTT rapidamente.
O primeiro teste ja foi feito e correu muito muito bem. Parece que fiz estrada a vida toda.

As voltas que a vida dá....
No meio de onde vim, não sei bem porque, os desportos da moda sempre foram o surf, o skate, o snowboard, etc. Sempre vi o ciclismo como um desporto mais ... bimbo. Já tinha sentido um pouco isto quando começei a fazer BTT e começei a usar "roupinha de licra".  Aqui foi facil de passar por cima disso. Literalmente passar por cima... um mortal encarpado por cima da roda da frente, devido aos calções largos mais "fashion" terem prendido no guiador. La se foi o estigma da "roupinha de licra".

Agora, depois de mais de 20 anos a fazer bodyboard, surf, snowboard, etc... aqui estou eu a fazer ciclismo. Parece que estou a ver a minha cara de frete a gramar com  a Volta a Portugal que o meu pai obrigava a por na televisão la de casa há uns anos. Ver aquele pessoal todo com sotaque do norte e do algarve, com pernas depiladas e com bronse à camionista. 

Se há coisa que a vida e os anos nos fazem aprender é que nunca sabemos o que é que vamos sentir no dia seguinte, por isso é melhor não fazer juízos antecipados das coisas antes de passarmos por elas.

Aqui estou eu... bike de estrada, roupa justa de licra, capacete e bronze à camionista ... não, as pernas não as depilo, mas usando a máxima que escrevi acima, também já não faço juízos de quem o faz. :D 



Um fininho com uma fininha!

domingo, 25 de setembro de 2011

Males que vêm por bem

E lá se foram as ferias embora há quase um mês.

A forma razoável que tinha antes das ferias, e que me permitiu fazer muitos kms de trecking nos Picos da Europa "com uma pernas às costas", foi-se embora quando tive duas semanas seguidas doente graças a melhor refeição que comi este ano. Numa zona remota dos Picos da Europa, almoçamos num pequeníssimo restaurante de pastores. Lá, estava à espera o meu prato favorito: um cabrito morto uns dias antes e que pastava no topo da serra onde tínhamos estado nesse dia. Junto com o cabrito, uma feijoada com morcela caseira e... prontos foram duas semanas seguidas com dor de barriga. Sem pedalar, sem correr, sem comer grande coisa...



Terminada finalmente esta saga, descubro com o um exame que a maldita bactéria afinal não tinha ido embora, e o índice de ferro no meu sangue continuava nas lonas. Agendado novo (e supostamente definitivo) tratamento à bactéria para Outubro, toca de repor algum do ferro perdido directamente na veia.

Foi mais ou menos nesta altura que voltei aos treinos. Juntando alguns treinos curtos mas bastante duros (80% a 93% da pulsação máxima) durante a semana, com alguns treinos em ritmo baixo (60 % a 75% da pulsação máxima) durante o fim de semana com o meu antigo grupo, fui ganhando de novo alguma da forma perdida naquelas semanas doente.
Na segunda semana de Setembro voltei a apertar. Com um treino forte de 50km em 2 horas  (com média de 90%  da pulsação máxima)  e um treino de subidas ( 1500m de acumulado em 30km) por semana, rapidamente comecei a sentir-me melhor.

E...   Há males que vêm por bem.
Há poucos dias fiquei a saber que vou ficar de ferias forçadas por algum tempo.  Não vou abordar esse assunto aqui, apenas o facto de, graças a ele, me ter dedicado quase a 90% ao BTT nas ultimas duas semanas.
Estas duas semanas de treinos intensivos culminaram com a volta mais forte que dei até hoje. 92kms rolantes em "estradão", sozinho, em pouco mais de 4 horas e com apenas alguns minutos de descanso com media final de mais de 22km/h. 

Ontem, e para ensaiar a ida a Fátima na próxima semana com os Metralhas, combinei com o meu amigo Cláudio batermos o nosso record de kms.
Assim desenhei um track de 134kms que nos fariam dar uma volta quase completa à península de Setúbal. Combinamos também fazer-lo simulando o ritmo de um passeio com as características do da próxima semana.
Ha muito não dava um volta com um ritmo tão calmo, pelo que foi preciso grande concentração e olho no medidor de frequência cardíaca para garantir que não passava dos 75% da pulsação máxima. Este track foi semelhante ao meu dos 92kms mas com mais uma alteraçãozinha... iamos subir quase ao topo da Arrábida, descer a mais de 50km/h durante largos minutos a caminho de Setúbal junto ao mar, subir de Setúbal para Palmela e ainda fazer o trilho dos moinhos e o final do cai de costas até Azeitão. Aí retomamos o estradão para as pedreiras, passamos por cima de Sesimbra até à Azoia, e fomos pela Praia da Foz até à Lagoa de Albufeira, Fernão Ferro e de volta à Charneca. Resultado: 134 kms cumpridos com quase 2000 de acumulado, e umas pernas em muito bom estado à chegada. Para terminar, e sem tempo se quer para me sentar 5 minutos no sofá, nada como um magnifico jantar no Arola (viva o Lisbon Restaurant Week). Um dia para mais tarde recordar.

Hoje, falta apenas uma semana para a ida a Fátima, mas acho que vou fazer ainda  mais uma volta (chamo volta a treinos calmos e sem ritmo ou media forçadamente alta) com mais de 100km. Estava a pensar em ir da Charneca a Sintra comer um travesseiro na terça ou quarta-feira... a ver vamos. 



Abraço,





terça-feira, 26 de julho de 2011

Quase de ferias

Pois é, estou quase de férias.
Mais uma semana e meia e ponho-me a andar. Este ano, devido aos Senhores da Troika, a coisa vai ser mais comedida. Uma semana na montanha nos Picos na Europa está garantida. A outra ainda sei bem se será pela terrinha ou vamos para o Algarve.


 Ao contrario do ano passado, este ano decidi não levar bike. Quero estar uns dias sem pensar em nada, incluindo treinos, cadencias, medias, etc.

Mas para isso as ultimas semanas têm sido muito intensivas. Quase 200kms por semana, fizeram com que este mês fosse o mês com mais quilómetros feitos até hoje (à excepção do mês da ida a Santiago que mesmo assim ficou a uns 2 treinos de distancia).


Com 4 a 5 treinos semanais, variando os treinos de cadencia forte, os treinos de series em subidas com treinos de descompressão, tenho-me sentido muito bem. Ainda  no sábado passado fui dar uma volta com o meu antigo grupo. Fiz o treino todo lento e em regime de descompressão, mas com os últimos 10km sozinho a uma média de 28km/h. Tendo em consideração que tinha dormido menos de 5 horas depois dos 45kms nocturno da véspera, e tinha feito treinos fortes na quinta, na quarta e na terça.... Posso dizer que estou de volta à forma que tinha antes da anemia.

Agora é só esperar pelas ferias... e pelo regresso :)