segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Preparação (1ª Parte)

Para quem ainda há um ano não andava de bicicleta, fazer mais de 90km por dia, durante vários dias, parece (à primeira vista) impossível.

Nos meus treinos de fim-de-semana normais, raramente faço mais de 50km com muitas paragens e pouca altimetria. Ao domingo, com os meus amigos de Sintra, lá faço os 30km com 800 metros de acumulado, o que, embora seja já bem difícil, fica muito aquém do que preciso para esta minha aventura.

Há claramente duas vertentes a preparar: A primeira são as pernas. Habituar as pernas a dias inteiros a pedalar …seis, sete, oito, dez horas por dia. A segunda, e a mais por importante de todas, a mente. Habituar a minha cabeça ao sofrimento, a controlar a ansiedade de chegar ao fim da subida, de chegar ao fim do dia… de sentir as pernas a arder e a irem-se abaixo, de sentir a respiração a descontrolar e a cabeça a arder de calor… durante horas a fio.
Foi mais ou menos isto que comecei há uma semana.


Primeiro foram 93km com aproximadamente 900 metros de acumulado em 6 horas de tempo útil a pedalar. Seguiu-se durante a semana uma corrida de 13km, e 50km de bicicleta divididos por dois dias. No fim-de-semana, uma voltinha leve de 47km para descomprimir com o pessoal da costa, e domingo o treino mais duro que tive até hoje.


1766 Metros de acumulado em 60km em plena serra da Arrábida. Subidas intermináveis, descidas vertiginosas, paisagens de cortar a respiração. É certo que ainda tenho muita coisa para conhecer, mas sempre considerei a Arrábida o sítio mais fantástico de Portugal. Agora conheço-a por dentro. Da maior e mais comprida subida de alcatrão, ao mais pequeno e estreito single track. Da vista mar de cortar a respiração a sul, ao vale cerrado a norte. Das humildes explorações agrícolas, às faraónicas casas de meia dúzia de privilegiados. Das pedreiras ao fundo a oeste aos moinhos de Palmela a este…



Não vou encher este sitio de relatos de treinos, para isso tenho os exceis e o Garmin Connect, mas não pude deixar de assinalar mais este degrau que subi, a ainda faltam tantos…

Uma maratona de 90km completa, uma tentativa de etapa da TransPortugal ... tantos os degraus em apenas 2 meses...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Motivação

Incrível como ainda há um ano nunca tinha feito mais que dois ou três quilómetros de bicicleta, e nem sabia quase para que serviam as mudanças da bicicleta.
Este texto era para ser uma introdução a esta aventura, mas vou acabar por ter de falar de como isto do BTT apareceu na minha vida.
Ainda não percebo bem porquê que o BTT apareceu na minha vida, acho que foram uma conjugação de factores.
Por um lado, o esforço físico: Sempre gostei do esforço físico. Ginásio, correr, basket, surf… O que me faltou sempre em jeito (sim que isto de 194cm dificulta muito tudo), sempre tive que sobra em espírito de sacrifício e dedicação.
Por outro lado também, a adrenalina: Não foi factor inicial, porque tipicamente só passado alguns meses é que comecei a arriscar mais, e aí sim a adrenalina começa a ser factor fundamental. Depois há mais dois pontos que penso que fazem toda a diferença. O contacto com a natureza. Brutal, mesmo quem mora na zona de Lisboa pode ter este contacto brutal. Subir à Peninha em Sintra e descer para a Praia do Abano, chegar bem lá acima do “cai-de-costas” ou das pedreiras da Serra da Arrábida, ou até tão simplesmente atravessar a Apostiça de bicicleta é algo muito, muito bom. O último ponto é a orientação. Não a orientação técnica que tenho a certeza que mais tarde ou mais cedo vou experimentar, mas simplesmente…. perder-me… e procurar caminhos novos, desconhecidos. Nem que seja ao pé de casa… Descobrir um novo caminho para ir de St. Teresa à Costa sem por as rodas no alcatrão. Descobrir um caminho que tenha uma descida mais radical e uma subida técnica que possa fazer no trajecto do trabalho para casa.
Toda a gente sabe que fazer BTT sozinho tem riscos, e há 200 argumentos a favor disso, principalmente para quem domina tão pouco a mecânica da coisa como eu. Mas confesso que andar sozinho, especialmente em sítios desconhecidos à procura de caminhos é uma coisa indescritível.
Há alguns meses, comprei um GPS de outdoor. Vinte minutos na net e arranjei 3 percursos que, alternando entre eles, me fariam ir de casa ao Cabo Espichel pelo mato.
Penso que foi mais ou menos nesse dia que começou o que me vez embarcar nesta viagem a Santiago de Compostela. No fundo é o estar perdido sem estar. Não saber onde se está, mas saber que se vai chegar a algum lado e saber onde. Só não saber… o Caminho.
Nesse dia andei em caminhos de areia (sim porque o Google não diz que o caminho é de areia ou terra batida), andei perdido no meio da mata, andei em caminhos agrícolas, no meio da lama, a fugir de cães… mas, no fundo daquela subida no meio do mato... quando pensava estar perdidíssimo… Encontrei… a praia do Meco, e depois encontrei as Bicas e finalmente o Cabo Espichel.

A minha motivação vem daqui, de querer descobrir caminhos novos, que querer pôr-me fisica e psicologicamente à prova. De querer por a lei das coisas à prova, e provar que estes 35 anos ainda não me impedem de fazer nada.

E que esta seja a motivação de várias travessias e vários Caminhos.

Introdução

Santiago de Compostela. Aqui vou eu.

Faltam dois meses para a viagem, que será a minha primeira travessia. Felizmente tenho um companheiro de viagem que domina tudo o que diga respeito ao Caminho de Santiago. Uma das muitas vantagens de viajar com um companheiro experiente neste Caminho são os preparativos. O que levar, em que sítios ficar, e todas estas questões estão à partida, não resolvidas mas pelo menos simplificadas.

Esta página servirá para poder relatar esta minha primeira aventura.

De tudo o que vou passar sei muito poucas coisas: Sei que vão ser três dias a pedalar mais de 90km por dia. Sei de onde vou partir, para onde vou e com quem vou. E claro… sei que vou sofrer, mas que vou la chegar.
Até lá... faltam muitos treinos. Alguns duros que já estão planeados e alguns mesmo muito duros como nunca fiz. Mas lá está, faz tudo parte do Caminho.