Para quem ainda há um ano não andava de bicicleta, fazer mais de 90km por dia, durante vários dias, parece (à primeira vista) impossível.
Nos meus treinos de fim-de-semana normais, raramente faço mais de 50km com muitas paragens e pouca altimetria. Ao domingo, com os meus amigos de Sintra, lá faço os 30km com 800 metros de acumulado, o que, embora seja já bem difícil, fica muito aquém do que preciso para esta minha aventura.
Há claramente duas vertentes a preparar: A primeira são as pernas. Habituar as pernas a dias inteiros a pedalar …seis, sete, oito, dez horas por dia. A segunda, e a mais por importante de todas, a mente. Habituar a minha cabeça ao sofrimento, a controlar a ansiedade de chegar ao fim da subida, de chegar ao fim do dia… de sentir as pernas a arder e a irem-se abaixo, de sentir a respiração a descontrolar e a cabeça a arder de calor… durante horas a fio.
Foi mais ou menos isto que comecei há uma semana.
1766 Metros de acumulado em 60km em plena serra da Arrábida. Subidas intermináveis, descidas vertiginosas, paisagens de cortar a respiração. É certo que ainda tenho muita coisa para conhecer, mas sempre considerei a Arrábida o sítio mais fantástico de Portugal. Agora conheço-a por dentro. Da maior e mais comprida subida de alcatrão, ao mais pequeno e estreito single track. Da vista mar de cortar a respiração a sul, ao vale cerrado a norte. Das humildes explorações agrícolas, às faraónicas casas de meia dúzia de privilegiados. Das pedreiras ao fundo a oeste aos moinhos de Palmela a este…