quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dia 2 - Viana do Castelo - Porriño - 81km

O dia começou como o anterior. Com chuva.  
Mas hoje as pernas estavam entorpecidas dos 92km do dia anterior, e não sabia ao certo o que esperar. Ao jantar do dia anterior, tinham-nos dito que o dia de hoje não ia ter grandes dificuldades. Umas subidas antes de chegar a Vila Paria de Ancora e umas antes de Vila Nova de Cerveira seriam os momentos mais problemáticos do dia. À luz dessas dicas, os 95km de hoje até Redondela seriam difíceis, mas exequíveis. 

Passamos por baixo da linha do comboio de Viana e retomamos o Caminho. Quando eu pensava que íamos rente ao mar pela costa, o caminho trocou-nos as voltas. Assim que saímos de Viana, subimos a “meia encosta” do monte que separa a costa do interior. 

Aqui alternamos entre as ruas empedradas de um 100 número de pequenas localidades, singletracks apertados por detrás de quintas, e duríssimas calçadas romanas. Ora a subir, ora a descer, ora empedrado, ora calçada romana.











Era realmente linda esta parte do Caminho, mas era também duro de fazer com as pernas cansadas do dia anterior, com a chuva que caía, e com os 8kg de mochila às costas, e cujo peso caía sobre os braços que mesmo com 130mm de suspensão ganiam a cada salto.
Foi com duas horas de caminho que terminamos estes 15km até Vila Praia de Âncora. Depois de um belo segundo pequeno-almoço abrigados da chuva, e um carimbo na credencial da GNR da zona, seguimos pelo Caminho, que agora sim poderia ser chamado da costa. Sempre junto ao mar, em terra batida seguíamos agora em direcção a Caminha, lutando contra a chuva e contra o vento que nos fustigava, mas agradecendo a pausa que o Caminho nos deu das calçadas.





Entramos em Caminha e fizemos mais uma pausa, apreciando o largo do centro da cidade. 



Saímos pela porta de Santiago, e sempre junto ao rui Minho começamos a subir para Vila Nova de Cerveira.





Um princípio bonito e relativamente rolante, depressa deu lugar às subidas e às calçadas. Há medida que nos aproximávamos de Vila Nova de Cerveira, aumentava o subir e o descer do caminho passando à porta de todas as igrejas e pontos religiosos. Quando víamos ao final de uma curva VN de Cerveira lá em baixo e começávamos a descer, depressa víamos uma igreja no topo e voltávamos a subir.






Foi já perto das 15h que chegamos finalmente a VN de Cerveira, com um atraso já significativo, e acima de tudo com um cansaço mental já muito elevado.  Ao almoço (em que quase sufoquei com um bocado de carne e um fio de gordura de 3 cm) analisamos as opções. Dormia-mos em Valença e fazíamos mais 130km no último dia? Chegávamos na segunda a Santiago?  Mas não, resolvemos dormir em Porriño, a 100km de Santiago. De qualquer modo deixamos o pior dia para o fim. 
Saímos de VN de Cerveira e fizemos a parte mais rolante dos 3 dias de caminho a caminho de Valença. Restabelecidos e aliviados por termos um novo plano de viagem e pelo Sol que agora nos iluminava, seguimos rapidamente até Valença. Aqui paramos para uma rápida bebida e atravessamos a ponte internacional para TUI.




Agora em TUI, e depois de uma subida dura em calçada, chegamos à igreja no topo. Foi o primeiro sinal de alívio que tive. Tinha o corpo a arder do Sol e de cansaço, tinha as costas massacradas da mochila e a cabeça cansada das calçadas e das saudades das minhas meninas. O entrar num sítio tão tranquilo como aquela igreja, ter sentido aquele fresco e aquele silêncio, fez-me um bem nem o almoço e um dia no SPA me teria feito.
Seguimos agora pelo Caminho em Espanha, à sombra, passando diversas pontes romanas e caminhos cheios de lama.






Passado algumas horas, chegamos a Porriño. Um sítio industrial e feio, junto a fábricas e terminais logísticos, mas soube-me muito bem lá chegar. O GPS marcava 81km, mas as minhas pernas  e a minha cabeça marcavam  173km.

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